sábado, 31 de maio de 2014

EM QUE ARAPUCA ALGUMAS MULHERES SE METEM E NÃO CONSEGUEM, SOZINHAS, SAIR!!!

(Por: Telma Tulim - Ver Quem Somos)

  Desejo contar, pouco a pouco, algumas passagens que vivenciei em mais de duas décadas dentro de Delegacias, Plantões Policiais ou abordagens de rua. O intuito é ALERTAR e dar poder às  pessoas para que  DENUNCIEM qualquer agressão que vejam ou sintam na própria pele. As vítimas  precisam saber que não estão sozinhas.
  Trabalhei em diversas cidades paulistas: Queiroz, Sorocaba, Espírito Santo do Pinhal, São João da Boa Vista, São Roque, Paraguaçu Paulista, Assis e Tupã.
  Para resguardar os envolvidos, contarei as  histórias mas não citarei nomes, épocas ou a cidade onde os fatos ocorreram.
Em que arapuca algumas mulheres se metem e não conseguem, sozinhas, sair!!!
  A polícia foi chamada muitas vezes para atender ocorrências envolvendo aquele casal, eram agressões físicas, verbais, emocionais, sempre perpetrados pelo homem sobre a mulher que chegava na Delegacia com muitos hematomas pelo corpo. Carregava uma criança no colo e outras duas pelas mãos.
  Muitas ameaças ocorreram até que um dia ele, nervoso, cortou a mangueira do botijão de gás, colocando tudo em risco de explosão.
 Todos ficaram em pânico, correram, se esconderam, chamaram bombeiros e policiais militares, que conseguiram evitar um desastre maior.
  Desta vez, porém, a mulher resolveu tomar uma atitude mais eficiente, afinal ela e seus três filhos corriam perigo de vida. 
  Assim, além do Boletim de Ocorrência, procurou também um Advogado para providenciar a separação legal.
  Após a retirada do agressor daquele lar, através de ordem judicial, colocada em prática por Oficial de Justiça.
  Tudo parecia estar caminhando bem, até que, dez dias após o ocorrido, tive uma  surpresa.    O casal entrou pelas portas da Delegacia, as roupas sujas de tinta...  estavam pintando a nova casa onde iriam residir juntos novamente.
  Então veio a explicação dela:
 - Olha doutora, tenho 3 filhos pequenos, não tenho profissão, nem estudo, não consigo sustentar a mim mesma e as crianças,  sei apenas cuidar da casa e dos meus filhos, por isso volto a viver com ele e estou aqui pedindo para “retirar a queixa”.
  Tentei argumentar que ele seria obrigado a pagar pensão alimentícia às crianças, que ela teria ajuda, mas meus dizeres foram em vão.
  Restou-me apenas entender a situação (naquela época era possível pedir o arquivamento do inquérito policial, hoje a Lei Maria da Penha não permite).
  Disse então ao agressor:
 - Ela deseja “retirar a queixa” mas você vai se comprometer, na minha presença,  a nunca mais agredi-la. 
  E ele me respondeu: Depende, se ela me obedecer...  
 Olhei para ela, aguardando a reação,  mas sua atitude foi abaixar a cabeça e ambos deixaram minha sala.

3 comentários:

  1. Parabéns pelo seu relato Telma! Muitas mulheres não conseguem mesmo sair dessa relação entre o ódio e o amor que por vezes vem acompanhado de agressões físicas, verbais e ameaças emocionais! Assim como você também reúno inúmeros casos de mulheres que vivem em situações de extrema pobreza e ou em situações de pobreza. Mas, também, por inúmeras vezes, sem contar quantas aqui, me deparei e continuo me deparando com mulheres em outras situações: são instruídas, capacitadas, têm inúmeros diplomas superiores, independentes e vivem situações iguais e ou semelhantes! Pois é, independentemente de qualquer situação sócio-financeira-cultural também questiono em que arapuca algumas mulheres se metem e "aceitam" e não conseguem sair? Pq razão continuam vivenciando essas agressões e muitas sem querer denunciar até pelo próprio currículo profissional que trazem consigo? Seria cultural num país como nosso em que a cultura está além de ser cultura? Seria genético? Comportamental e aprendido, com histórico familiar? Ou apenas uma dependência emocional? Relatos comuns que independem de suas situações sócio-econômicas. Diria a você que proporcionalmente teríamos mais mulheres independentes em situações total de dependência de homens agressores.

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  2. Defendo a ideia de um grupo de apoio a estes agressores como por ex. o A.A. que eles devessem participar como um complemento da pena...muitas vezes eles vem de lares assim, com violência...Belo texto Dra. Parabens!!

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  3. Realmente, a ideia de um grupo de apoio aos agressores é excelente, mesmo porque, muitos advém de famílias desestruturadas, onde o único exemplo que tiveram foi de agressão, pessoal ou a familiares, que se quedavam (e ainda se quedam) inertes, diante da dependência, principalmente financeira, dos envolvidos. A mudança não seria imediata, é claro, mas se não se der início a uma proposta como essa, ou outras que busquem o mesmo fim, nada vai mudar e continuaremos a ler relatos tristes como o acima publicado.

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