Aprendizagem é toda mudança de comportamento em resposta a experiências anteriores porque envolve o sujeito como um todo, considerando todos os seus aspectos, sendo eles psicológicos, biológicos e sociais. Se algum desses aspectos estiver em desequilíbrio haverá a dificuldade de aprendizagem.
Segundo Piaget (1973) , a aprendizagem só se dá com a desordem e ordem daquilo que já existe dentro de cada sujeito. É necessário obter contato com o difícil, com o incomodo para desestruturar o já existente e em seguida estruturá-lo novamente, com a pesquisa e também motivações tanto intrínseca como extrínseca para obter a aprendizagem, ressaltando que a motivação intrínseca é mais importante porque o sujeito tem que estar interessado em aprender, sendo que a junção dos dois (intrínseca e extrínseca) formam importantes aliados para a melhor aprendizagem do sujeito.
O processo do conhecimento se dá na interação entre sujeito e objeto, esta interação Piaget (1973) chama de assimilação e acomodação.
Não há assimilação sem acomodação e vice-versa, mas pode acontecer o predomínio de uma ou de outra, para ocorrer este processo é preciso que o sujeito tenha situações problemas que desafiem sua inteligência.
Para Pain (1985), o processo de aprendizagem se inscreve na dinâmica da transmissão da cultura, que constitui a definição mais ampla da palavra educação, atribuindo quatro funções interdependentes: a) Função mantenedora da educação: garante a continuidade da espécie humana por meio da aprendizagem de normas que regem a ação; b) Função socializadora da educação: através da linguagem, do habitat transforma o indivíduo em sujeito social; c) Função repressora da educação: um instrumento de controle que tem por objetivo conservar; d) Função transformadora da educação: transforma o sujeito, de formas peculiares de expressão revolucionária a partir de mobilizações primariamente emotivas advindas das contradições do sistema.
Na tentativa de uma definição da patologia da aprendizagem, ela a define como um sintoma, no sentido de que o não aprender não configura um quadro permanente, mas ingressa em uma constelação peculiar de comportamentos, assim, o seu diagnóstico está constituído pelo seu significado.
A aprendizagem possui dois tipos de condições: as externas, na qual é comum a criança com problema de aprendizagem apresentar algum déficit real do meio devido a confusão dos estímulos, a falta de ritmo ou a velocidade com que são brindados ou a pobreza ou carência dos mesmos e, em seu tratamento, se vê rapidamente favorecida mediante um material discriminado com clareza, fácil de manipular, diretamente associado à instrução de trabalho e de acordo com um ritmo apropriado para cada aquisição e as internas que estão ligadas a três aspectos: o corpo como organismo que favorece ou atrasa os processos cognitivos, sendo mediador da ação; a cognição, ou seja, à presença de estruturas capazes de organizar os estímulos do conhecimento; condições internas que estão ligadas à dinâmica de comportamento.
A aprendizagem será cada vez mais rápida quando o sujeito sentir a necessidade e urgência na compreensão daquilo que está sendo apresentado.
Segundo Fernandes (2001), é importante levar em consideração as estruturas cognitivas e a estrutura desejante do sujeito, porque um depende do outro, é necessário que o sujeito tenha desejo, pois este impulsiona o sujeito a querer aprender e este querer faz com que o sujeito tenha uma relação com o objeto de conhecimento. Para ter essa relação o sujeito precisa ter uma organização lógica, que depende dos fatores cognitivos. No lado do objeto de conhecimento ocorre a significação simbólica que depende dos fatores emocionais. Todo sujeito tem a sua modalidade de aprendizagem e os seus meios de construir o próprio conhecimento, e isto depende de cada um para construir o seu saber.
O sujeito constrói esse saber a partir do momento que ele tem uma relação com o conhecimento, com quem oferece e com a sua história. Para que o conhecimento seja assimilado, é preciso que o sujeito seja ativo, transforme e incorpore o seu saber, esquecendo de conhecimentos prévios que já não servem mais, é importante também que o ensinante dê significado para este novo conhecimento, despertando o desejo de querer saber do aprendente. O modo como uma pessoa relaciona-se com o conhecimento se repete e muda ao longo de sua vida nas diferentes áreas.
O conhecimento acontece quando alguns esquemas operaram e utilizam diferentes situações de aprendizagem, é um molde relacional e móvel que se transforma com o uso, é a organização do conjunto de aspectos (conscientes, inconscientes e pré-conscientes) da ordem da significação, da lógica, da simbólica, da corporeidade e da estética, tal organização ocorre espontaneamente, isto se chama modalidade de aprendizagem, segundo Fernandes, sendo que o problema de aprendizagem ocorre quando essa modalidade se enrijece, congela.
Cada pessoa tem uma modalidade singular de aprendizagem, que se organiza a partir dos ensinante (família e escola), considerando a criança como um ser aprendente e que tem capacidade para pensar; do espaço saudável, ou seja, onde seja possível fazer perguntas; das experiências vividas com satisfação em relação ao aprender; do reconhecimento de si mesmo como autor; dos espaços objetivos e subjetivos, onde o jogar seja aceito; de uma possível relação com sujeitos da mesma idade; do modo de circulação do conhecimento nos grupos de pertencimento: família, escola, contexto comunitário.
É importante ressaltar que o sujeito é sempre ativo, é autor do seu conhecimento, ele constrói sua modalidade de aprendizagem e a sua inteligência que marcará uma forma particular de relacionar-se, buscar e construir conhecimentos, um posicionamento de sujeito diante de si mesmo como autor de seu pensamento.
O aprender significa também “perder” algo velho, mas utilizando-o para construir o novo, é o reconhecimento da passagem do tempo, do processo construtivo, o qual remete necessariamente, à autoria. Aprender é historiar-se, pois, sem esse sujeito ativo e autor que significa o mundo, aprendizagem será apenas uma tentativa de cópia.
Para aprender precisamos entender e analisar a relação entre futuro e passado, assim entenderemos todo o processo de aprendizagem, ou seja, o sujeito tem que ser biógrafo de sua história.
Concluímos que a aprendizagem é uma mudança de comportamento, assimilações e informações nas quais o sentido de aprender não é impor barreiras e limites para a criatividade e disponibilidade de cada ser. O desenvolvimento de uma boa aprendizagem é a integração de aspectos: afetivo, físico, emocional, social e intelectual do aprendiz, ocasionando uma motivação interna e construindo o conhecimento a todo o momento.
Referências
FERNANDES, A. Os Idiomas do Aprendente. São Paulo: Artmed, 2001.
PAIN, S. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 1985.
PIAGET, J. A psicologia. 2. Ed. Lisboa: Livraria Bertrand, 1973.
Profª Dra. Regiane Souza Neves
Sócia e Diretora do CEADEH Centro de Estudos Avançados em Desenvolvimento Educacional e Humano (www.ceadeh.com.br). Presidente e Coordenadora de Ensino Superior: Graduação, Pós-graduação e Extensão da ABRAPEE Associação Brasileira de Profissionais e Especialistas em Educação (www.abrapee.com.br). Editora responsável da Revista On-Line Circuito Educacional (www.circuitoeducacional.com)
Nenhum comentário:
Postar um comentário