Já fomos chamados de país do futebol, do samba, da caipirinha, o país do jeitinho. Todos esses adjetivos encerram em si uma única característica, a alienação. Nós últimos tempos, graças às manifestações ocorridas em junho do ano passado, recebemos um título que gosto muito, o de “Gigante Adormecido”. Ele nós dá a esperança de acordar, e também nós dá um certo orgulho, o de ser um Gigante, não apenas pelas nossas dimensões físicas, que são continentais mas, sobretudo, pela nossa força, que só existe quando há união. O povo unido, quando imbuído de seus direitos legítimos, estremece a nação, foi o que aconteceu em junho, as autoridades do país, os gestores públicos e os políticos ficaram boquiabertos diante do súbito despertar do Gigante. Mas, logo trataram de manchar o motivo autêntico que moveu o povo nas primeiras manifestações.
A questão é, o que fará o Gigante diante de sua maior paixão, o futebol? Ainda não sabemos, mas muitos de nós já está conseguindo suprimir essa antiga paixão diante das notícias de gastos bilionários para a realização da Copa do Mundo, nos padrões FIFA, que se torna cada vez mais discrepante quando comparados a todas as necessidades básicas de saúde, educação e infraestrutura do nosso país sucateado.
Recentemente o compositor Edu Krieger descreveu esse sentimento numa música chamada “Desculpe, Neymar”, onde diz, “nesta Copa eu não torço por vocês, estou cansado de assistir ao nosso povo definhando pouco a pouco ...enquanto a FIFA se preocupa com padrões somos guiados por ladrões que jogam sujo pra ganhar ...gastando mais de 10 bilhões.” “...A primavera prometida não chegou, a vida vale mais que um gol, e as melhorias onde estão”.
Mas, é no final da música que ele traduz o verdadeiro sentimento de dualidade que habita no peito da maioria do povo que, mesmo ganhando mal e vivendo mal, sem poder sequer comprar um ingresso da Copa, mesmo assim, não deixará de amar o futebol, e acompanhar até o final, a nossa seleção.
O que fará o Gigante Adormecido? Acho que está dividido.
Karina Kramer
Karina Kramer é formada em Economia pela FAAP. Estudou História da Arte no MASP (Museu de Arte de São Paulo). Trabalhou no mercado financeiro e no mercado editorial. Durante quinze anos foi assistente de um importante colecionador de Arte Oriental.
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