Dos milênios que procederam o
homem moderno, a primeira grande revolução que herdamos foi o da fixação no
território ocasionada pelo desenvolvimento da agricultura. Além do fato de não
se ter necessidade de se deslocar todo o tempo para a manutenção alimentar dos
grupos humanos, a permanência resultou em duas questões – iniciais – e básicas:
a construção de edificações permanentes e a divisão de tarefas, gerando as
primeiras sociedades urbanas.
Dessa maneira, para conversarmos
sobre as relações entre o gênero feminino e seu abrigo coletivo – a casa –
deve-se ter sempre em mente as relações mais amplas que se estabelecem entre os
grupos humanos.
À medida que as civilizações se
desenvolveram, a partir dos contatos e das limitações das trocas, os sistemas
de relações entre homens e mulheres, determinação de papéis e definições das
atividades entre homens e mulheres foram se definindo.
Ainda hoje, quando encontramos
companheiros que, ou não permitem ou simplesmente dificultam a movimentação das
suas parceiras no mercado de trabalho, na verdade estes homens só repetem o
papel que foi atribuído às mulheres nas primeiras sociedade agrícolas
beneficiando o predomínio dos homens no controle dos agrupamentos humanos.
O deslocamento das atividades de
sobrevivência da caça e da coleta para a agricultura pôs fim gradualmente a um
sistema de considerável igualdade entre homens e mulheres. Na caça e na coleta,
ambos os sexos trabalhando separados, contribuíam com bens econômicos
importantes. As taxas de natalidade eram relativamente baixas por meio da amamentação
prolongada.
Como consequência o trabalho das
mulheres de juntar grãos e nozes se tornava mais fácil. No entanto com o
advento da agricultura , aprofundou as diferenças beneficiando o trabalho
masculino. Com a melhora das condições de vida acontece o aumento de número de
filhos e o trabalho braçal fica definido como o do sexo feminino, enquanto que
o preparo da alimentação e o cuidado com as crianças passa a ser feminino. Este
sistema de relacionamentos é o que denominamos de “patriarcalismo”.
Nas sociedades patriarcais tais
como a Mesopotâmia no período de cerca de 3000 AC (anos antes de Cristo), os
homens eram considerados criaturas superiores. Tinham direitos legais que as
mulheres não possuíam e estavam dedicadas exclusivamente às tarefas domésticas.
Segundo o Código de Hamurabi – primeira lei escrita que se tem notícia – uma
mulher que não tivesse sido uma dona-de-casa cuidadosa, tivesse vadiado e
negligenciado sua casa e depreciado seu marido deveria se “jogada na água” .
Como pode ser visto, por mais que
tenhamos modificado a forma de vivermos e de nos mantermos – não caçamos,
compramos a caça no açougue, desenvolvemos máquinas que trabalham para nós,
entre outras modificações – ainda se mantém esta posição em grande parte da
população.
Ainda que a maneira de partes
substanciais da população do planeta ainda pense desta maneira, na verdade
mudamos muito. A força bruta jánão é a única maneira de se sobreviver. Na
verdade desde o século XIII e XIV o crescimento das cidades passa a receber o
desenvolvimento do comércio que marca a passagem da sociedade da antiguidade
para a sociedade moderna. Nesta nova configuração, a presença das mulheres já
não aparecia tão diferente e subordinada, mas sempre restrita nas coisas em que
poderia avançar para o desenvolvimento da sociedade como um todo.
Neste sentido, as constantes
guerras e revoluções também passaram a contribuir para uma nova distribuição de
responsabilidades: as mulheres e, em alguns casos, até mesmo crianças, passam a
trabalhar em galpões para um só patrão – iniciava-se a revolução industrial. O crescimento populacional em todas as partes do globo foi
sem procedentes na história da humanidade e com enormes implicações nas vidas
de homens e mulheres.
Também sob o ponto de vista
cultural, a revolução industrial trouxe novos padrões e formas de
relacionamento entre homens e mulheres: o número imenso de movimentação de
populações entre as diversas partes do mundo, por meio da imigração, das
guerras e dos novos patamares tecnológicos alcançados.
Todas as questões levantadas
convergiram para um processo de reafirmação das cidades nos processos de
transformação tecnológica, social e econômica que compuseram o modo de vida
contemporâneo e são fundamentais para a identificação do significado da questão
da habitação na vida das mulheres hoje.
Mulheres e Habitação
Helena Werneck (Ver Quem Somos)
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