"Mulheres de Bronze"
O Basquete Feminino do Brasil, ilustre desconhecido, surpreendeu o mundo
esportivo com uma conquista inédita! Medalha de Bronze no Mundial do
Ibirapuera-São Paulo-Brasil-1971.
Nossa equipe ficou conhecida como as Mulheres de Bronze.
Neste mundial praticamente não joguei, fiquei torcendo do banco, um
grande ensinamento para minha vida.
Passamos quatro longos meses concentradas e treinando muito. Eu tinha na
época 21 anos, estava determinada a ganhar o posto de titular desta maravilhosa
equipe.
Mas, diante de tantas veteranas famosas consideradas as melhores do
mundo, meu propósito era quase impossível.
O "quase" não me amedrontou..., muito menos
intimidou; cada dia eu me esforçava mais e ia ganhando a confiança dos
técnicos.
Este Mundial no Brasil era a grande oportunidade da minha família e
amigos me virem jogando em nosso País. Nunca
a seleção tinha jogado aqui e já tínhamos o título de campeãs panamericanas no
Canadá-1967 e outros de sulamericanos...todos fora do nosso País.
Na véspera da abertura do Mundial ,fomos para o Ibirapuera fazer um
treino tático para o jogo contra a França, uma equipe muito forte.
A comissão técnica ainda não tinha definido as titulares.
Fui para o treino ansiosa...sonhando em receber a camisa amarela . Isto significa ser titular!
Após o aquecimento os técnicos nos reuniram no centro da quadra para
distribuir as camisas...meu coração não batia...retumbava! Estava tremendo
inteira por dentro.
O Valdir Pagan, jogou camisas amarelas para as duas grandes pivôs Nilza (in memorian) e Marlene, outra para Maria
Helena (o grande cérebro da equipe),outra para Norminha ( a maior expressão da
época) e parou! Ficou olhando para mim, para Heleninha (armadora
inteligentíssima) e para Laís (experiente armadora e defensora). Após alguns momentos angustiantes, olhou demoradamente e
lançou a tão sonhada camisa canarinho para mim!
Eu quase gritei de emoção, não conseguia disfarçar o prazer da
conquista. Comemorei internamente e comecei a sonhar com as manchetes dos
jornais do outro dia: " A jovem
promissora Elzinha conquista o posto de armadora da Seleção Brasileira
de 1971."
Pensei na alegria de toda a minha família que estava
vindo para o Ibirapuera, com esforços imensuráveis financeiros.
O treino reiniciou. O técnico me chamou de lado com instruções específicas: Nada de jogadas arriscadas, só distribua bolas. Seja obediente e não se arrisque; amanhã é que começa o jogo de verdade... preciso de você inteirinha.
O treino reiniciou. O técnico me chamou de lado com instruções específicas: Nada de jogadas arriscadas, só distribua bolas. Seja obediente e não se arrisque; amanhã é que começa o jogo de verdade... preciso de você inteirinha.
Consegui cumprir as instruções por um tempo, mas quando percebi a
quantidade de fotógrafos, repórteres e até televisão (inédito para nós)... o
meu orgulho e insensatez foi muito mais forte que a razão.(naquela época estava
deixando Deus de lado)
Fui batendo a bola pelo centro da quadra, olhei para um lado, para o
outro e ao invés de distribuir a bola parti para
dentro com fintas mirabolantes e preparei para finalizar com uma jogada de
"efeito".
Eu só tinha um propósito... APARECER!
A consequência da desobediência chegou instantânea... torci
violentamente o pé! Caí no chão com dores intensas e chorando muito por
dentro... sabia que estava fora da equipe e o pior...do Mundial!
Quanto arrependimento...já era tarde...perdi
a batalha...minha alma em prantos não me permitiu chorar por fora.
No outro dia os jornais publicaram uma
manchete: "Aumenta a média de idade das titulares do Brasil, a
promissora jogadora Elzinha, de 21 anos, está fora do Mundial".
Bem diferente daquela que escrevi mentalmente com a pena da vaidade não
é?
Naquela noite, sozinha no quarto do Hotel São Paulo, chorei muito e
clamava a Deus para sarar meu pé.
Ao amanhecer senti SUA voz falando dentro de mim: "Minha filha
amada, chega de orgulho, insensatez e desobediência. Agora
EU vou cuidar do teu caráter; entregue
tudo e venha sem restrições para MIM. Vou te forjar no sofrimento e na
humilhação... lembre-se que tudo começa da
desobediência...não posso tirar as consequências de você.
Começou minha escola de vida...torci do banco freneticamente
pelas minhas companheiras, exercitei o espírito de equipe. Meu pé não
sarou. Durante o Mundial, os médicos fizeram uma
"botinha" de esparadrapo para eu entrar na quadra...os técnicos
penalizados me colocaram um pouquinho contra a Coréia do Sul (fiz duas cestas)
e mais um pouquinho contra as gigantes russas.
Nossa equipe encantou o Brasil, ficamos famosas, (eu nem tanto)... não
estava preparada para lidar com a fama.
Nossa garrida equipe venceu o impossível... ganhamos a medalha de
bronze...diante das temidas gigantes russas e tchecas.
Batemos o Japão, Coréia do Sul, França e outros.
Um mês depois, embarcamos para Cali- Colômbia para
o Panamericano.
Meu pé sarou. Fui titular e considerada
uma das melhores jogadoras do Pan.
Começou uma fase áurea na minha carreira esportiva, dali para frente fiz
muitas cestas e jogadas fantásticas para o Brasil, mas sempre em terras
estrangeiras. Nossa seleção nunca mais jogou
no Brasil.
Este é um relato de um pedacinho da minha vida nas quadras defendendo o
Brasil. A medalha de bronze que ganhamos nem sei
por onde anda, mas a interna de ouro, que ganhei com o
Tratamento de Deus , levo comigo por onde quer que eu vá. Hoje sou grata
por este acontecimento que foi "graça" disfarçada de tristeza.
Até hoje quando fico tentada a desobedecer, meu pé dói um pouquinho para
ativar minha memória.Elzinha Pacheco (Ver Quem Somos)
Parabéns Elzinha. Saber reconhecer os erros e, deles tirar lições de vida, é fundamental para o nosso crescimento. Lindo relato e, sim, nesse campo, decididamente, vc herdou os talentos do avô e do pai.
ResponderExcluirLembro bem de tudo isso, minha irmã...ficamos tristes por não ver você na quadra, como imaginávamos ver...jogando o que sabia fazer muito bem...mas nos alegramos em ver o nosso time conquistar o 3º lugar...até hoje me lembro da vitória contra o Japão...demais da conta de emocionante.
ResponderExcluirElzinha minha querida--Muito lindo o seu depoimento, autêntico e verdadeiro. Somente as grandes guerreiras são capazes de exprimir tanto sentimento de amor pelo que fez e faz. Esse blog tem que sentir-se privilegiado em ter ao seu lado uma protagonista de grande valor no desporto nacional. Fica sempre com DEUS minha amiga. Parabéns, bjs,wm.
ResponderExcluirAdorei ler esse relato, mesmo já depois de ter ouvido você mesma contando. Nada de bronze. Você é uma mulher de ouro, Elzinha. Lindo texto...
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