Escrevo para falar
sobre terapia. Ouço com frequência falácias, pensamentos distorcidos sobre esse
assunto. Adoraria que muitas mulheres tivessem a oportunidade de refletir sobre
as palavras que aqui tenho a chance de expor.
Porém, antes de
continuar, gostaria de destacar duas citações de autores que admiro: 1. “Mas chegará o instante em que me darás a
mão, não mais por solidão, mas como eu agora: por amor” (C. Lispector). 2. "Em última análise, precisamos amar
para não adoecer" (Freud).
Portanto, quando
falamos de terapia, estamos também falando sobre o sentimento de amor. Sim,
isso mesmo. Terapeuta significa "aquele que cuida". É preciso expandir
o universo da palavra "terapia". Logo a sua pode ser qualquer relação
de ajuda na qual se mantém o coração aberto, permitindo-lhe ser autêntico com
suas dores e alegrias. Não necessariamente uma consulta a um médico ou a um
psicoterapeuta.
Qualquer psicoterapeuta
sabe que o que mantém o paciente em análise é principalmente o vínculo, a
relação afetiva criada, e não o quão boa é sua técnica, ou quantos livros ele
leu sobre o assunto. Isso é secundário. O educador e psicanalista Rubem Alves
diria que as pessoas amam aqueles que sabem ouvir, "quem ouve
bonito".
Só que esbarramos em
dois pontos, que interligados formam uma poderosa armadilha contra a terapia, e
ao meu ver, a nossa saúde. A primeira é acharmos que "terapia" é algo
pra gente louca, jargão comum. A segunda, é achar que precisamos ser fortes a
todo custo e em todas as situações. Dar conta de tudo. Isso é ser forte?
Ah é? Desde quando? Que
fantasia foi essa que inventamos? Estamos continuamente aprendendo, vivendo
mudanças, passando por novos momentos. A necessidade de nos fortalecermos
frente as situações é constante e ter a quem dar a mão para isso faz parte do
processo natural. Lidar com tudo sozinho é como colocar um "magricelo"
frente a um lutador experiente e pedir que ele ganhe. Das duas uma: Ou ele sai
correndo da situação ou fica ali e morre. Enquanto que o que deveríamos fazer é
pedir tempo para nos fortalecermos, estarmos preparados. Provavelmente esse
"magricelo" fosse precisar de um treinador. Concordam até aqui?
Não entendo porque para
todas as coisas aceitamos treinamento e para as dificuldades da alma não. É
como se tivéssemos que nascer prontos, fortes e inabaláveis. Grande engano. E
por isso escrevo, para valorizarmos a relação de ajuda, a qual considero
indissociável da ideia de saúde mental e física, já que uma influencia
continuamente na outra. Seja com um psicólogo, um psiquiatra, um amigo, um
irmão, uma mãe. Precisamos perder a vergonha de dar as mãos para alguém quando
necessário. Assim, procurar nossas terapias. Do contrário, ou você morre
psiquicamente e adoece, ou sai correndo.
Dra. Flávia Martins Beduchi (Ver Quem Somos)
Dra. Flávia Martins Beduchi (Ver Quem Somos)
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